Saudades de mim.
Gilson Leite de Moura
Saudade da criança que guardou nos ouvidos
o zumbido das cigarras ecoando na serra.
Saudade da criança que deixou no passado
o cheiro da rapadura e da garapa de cana fervendo nos tachos.
Saudade da criança que, feliz ganhou os afagos da avó que chamávamos vozinha,
a santa criatura que povoou os meus sonhos de menino.
Saudade da infância que ligeiro saiu de mim,
mas nunca saí dela de tão agarrada nas minhas lembranças.
Saudade da criança que guardou no passado
a música dolente dos cambiteiros de cana com suas toadas tristes
varando as manhãs da serra fria.
Saudade de um passado que deixou a marca da felicidade
que então pensava eterna.
Saudade do frio da serra e da pequena fonte
que despejava atrás da casa, a água gratuita da mãe natureza.
Saudade da “cruviana” que gelava até os ossos
e assobiava no telhado nas madrugadas geladas.
Saudade do tijolo quente que Fia botava debaixo da rede
para esquentar nosso sono e também nossos sonhos.
Saudade de Tia Joaninha, Tio Pedro, Tia Naíde, Tia Francisca, João Leite...
sem saber morávamos todos no paraíso que achávamos único e eterno.
Saudade do Sítio Santa Rosa, Édem da infância
que até hoje habita meus sonhos de adulto.
Saudade da gente minha, de coração puro
como as flores do jardim da casa.
Saudade da casa que não mais existe, mas continua construída em mim,
envolta na serração e na névoa do tempo que passou e impiedosamente passa...,
escoando entre as lembranças!
Saudade de tudo!
Saudade do que fui!
Saudades de mim!
Gilson Leite de Moura 08/maio/2011